FAMÍLIA

As famílias dos internos do HCTP são sua única oportunidade de serem ouvidos. Visitados majoritariamente por mulheres, sejam mães ou avós, os presos aguardam ansiosamente o momento de ver a família. Muitas das mulheres que vão ao HCTP para ver seus familiares são idosas. Os ônibus que passam perto do Hospital de Custódia ainda deixam essas famílias para andar um percurso de 800 metros numa estrada de barro vazia e acidentada. Não tem ônibus do Estado de Pernambuco nem da Prefeitura de Itamaracá que leve essas pessoas nesse trajeto, que tem um sol escaldante pela manhã e uma escuridão perigosa de noite. Não há ninguém que ajude a dividir o peso das sacolas. Na quinta-feira os internos podem ligar para as suas famílias. Na próxima visita essas mesmas famílias fazem quase o impossível para trazer o que foi pedido.
Johny, 21 anos, traz a filha do primo para visitá-lo. Preso por roubo, o rapaz de 18 anos foi para o HCTP por causa de transtornos mentais causados por um acidente em que teve o crânio rachado.
Sandra Gomes de Lima, 47 anos, não visita semanalmente o filho, interno do HCTP. Preso por agressão e afastado de casa pelo juiz, o rapaz, que também foi acusado de roubar sorvete num posto de gasolina, não poderá voltar para casa quando sair do Hospital de Custódia. Sandra conta que, quando em surto, o filho se tornava agressivo e que usava qualquer objeto como arma. A mulher afirma que fará o possível para que o rapaz continue no HCTP, onde toma os remédios adequadamente e está com o transtorno controlado.
Maria José da Silva, 72 anos, visita o neto e conta que o queria em casa. Reforça que o rapaz, que já fazia tratamento no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) de Abreu e Lima, não era agressivo e chegou no HCTP porque furtou R$107,00. Apesar de estar visitando o neto pela terceira vez, a idosa ainda não tinha conseguido fazer a carteirinha que dá acesso ao HCTP. Na primeira vez que foi, a máquina estava quebrada. Na segunda, era domingo, dia em que não é feita a carteira.
Maria Mendes, 52 anos , sai de casa às 5h40 da manhã para visitar o filho. Num percurso de quase quatro horas para chegar ao HCTP, a mulher carrega sacolas cheias de comida, sucos e refrigerantes. Longe de casa há cerca de três meses, o filho de Maria teve um surto e furtou um celular. Foi essa a circunstância que o levou ao HCTP. Antes da internação o rapaz já fazia tratamento psiquiátrico no Real Hospital Português e no Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip).
Joselita Maria da Silva, 61 anos, visita o filho todas as semanas. Epilético e esquizofrênico, o rapaz de 28 anos está no HCTP por tentativa de assassinato depois de um surto causado pela falta do medicamento que usava diariamente. Joselita sai de casa antes das seis horas da manhã e pega três ônibus. Esse é o esforço de uma mãe que afirma que ninguém pode tirar seu filho dela. Os problemas com a aposentadoria do rapaz tornam ainda mais difícil a condição de vida da família.